O Gigante Acordou

Jornal O Estado:



"Eram 5 horas e 22 minutos da tarde quando um velho DC-3 da FAB fez uma suave curva sobre o Orlando Scarpelli. Aqui embaixo, um homem de preto, baixo e atarracado, ergueu sua mão direita para o céu. Era o sinal.

Egon, com uma vistosa camisa amarela, saiu correndo para o túnel, assim como todos os outros jogadores do Figueirense. Os portões do alambrado foram abertos pela torcida e de repente, o gramado – palco e posse, até ali, de 22 pessoas – transformou-se numa grande festa. Era o campeonato voltando à Capital, depois de 13 anos, e voltando ao Figueirense depois de 32.

Uma imensa bandeira alvinegra foi aberta e começou a circular, já tocada pela glória do título. Tão grande era, que envolveu um policial nas suas malhas. Este, irritado, deu uns puxões nos torcedores, escusando-se a dar trânsito ao público. "É Avaí! É Avaí!", gritaram.

No meio do campo se ascendiam velas. Pela esquerda, surgia carregado nos ombros o treinador Jorge Ferreira, que um pouco depois, de sapatos e meias, colocava os pés sob uma torneira.

Foi a hora em que, voltando dos vestiários, a equipe campeã iniciou a volta olímpica. Mesmo depois do jogo, o preparo físico estava excelente. Tentando acompanha-la, o presidente José Mauro Ortiga, apesar de ter tirado seu pesado capote, ficou na metade do caminho. À esquerda das cadeiras especiais, a torcida do Avaí a tudo assistia em silêncio.

(...)

Nas ruas a festa prosseguia. O número de pessoas e carros que lentamente deixava o estádio assegurava que, desta vez, o futebol voltou para a ilha para ficar, trazido pelo Figueirense, um time que nunca deixou de estar em ascensão, durante todo o campeonato."

Figueirense 0 x 0 Avaí. Orlando Scarpelli, Florianópolis, 3 de setembro de 1972. O futebol de Santa Catarina assistia ao despertar de um gigante: o maior fenômeno popular do esporte catarinense voltava a figurar entre os consagrados campeões estaduais, em busca da hegemonia perdida na década de 40. A conquista de 72, sobre o maior rival, não foi importante apenas para o clube alvinegro, mas para o campeonato em si, que até então não tinha visto uma comemoração de tamanha expressão.

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