O Time do Povo Catarinense

As cores que formam o mais intenso contraste revelam um significado que vai muito além da estética. No caso deste time, especialmente, as cores representam a força popular que o ergueu e que o manteve forte e grandioso, mesmo nos momentos mais dramáticos.

O Figueirense Futebol Clube não construiu sua trajetória através dos trilhos da elite social, tampouco precisou utilizar-se da identidade política da cidade para consolidar seu apelo popular. O Figueira possui sua própria identidade, a qual se confunde com a imagem de sua torcida, aguerrida e vibrante, como tal destaca o velho hino.

Em nove décadas, gerações se sucederam. A platéia se tornou torcida, e a torcida se tornou nação. Apesar da elitização do futebol que vem, nos últimos anos, ofuscando o brilho das arquibancadas, é evidente a íntima relação desse clube com as camadas mais populares. Celebra-se aqui, portanto, o futebol brasileiro na sua mais característica expressão: a popularidade.

Porque o Figueira foi, é e sempre será o time do povo de Santa Catarina.



Dica: Clique nas imagens para ampliá-las.
Créditos: Júlio Gonçalves

De 1921 a 1951 – Os Figueirenses

Em 1921, Florianópolis era uma pequena capital provinciana e isolada, cuja sede se encontrava desligada do continente por um estreito canal de águas rasas. Surgiu, por esta razão, um intenso envolvimento da cidade com as práticas marítimas, dentre as quais o remo.

A divisão política do município se adequava às suas dimensões, coexistindo diversos conjuntos urbanos no que atualmente compreende apenas um bairro: o Centro. Situavam-se ali, dentre outros, os bairros da Rita Maria, do Menino Deus, do Mato-Grosso, da Tronqueira, da Praia de Fora, do Arataca e da Figueira. Este último compreendia as imediações das ruas Conselheiro Mafra e Padre Roma que, naquela época, eram caracterizadas como arrabaldes.


Antigo bairro da Figueira.

Nesse contexto, surge o Figueirense Futebol Clube, em 12 de junho, das mãos de vinte e dois jovens amigos do bairro da Figueira, liderados pelo sindicalista João dos Passos Xavier, que se tornou o primeiro presidente do Clube. Funcionário do grupo Hoepcke, Xavier chegou a ser empregado do Dr. Aderbal Ramos da Silva, que se tornaria governador do estado e um dos mais ilustres torcedores do Avaí, time rival, fundado em 1923. Segundo o benemérito Agenor Povoas, “o Figueirense surgiu por gente fraca na sua apresentação social, mas elevada pela firmeza de suas convicções”.

Os jogadores, torcedores, diretores, enfim, todos os que se envolviam com o futebol do Figueira eram chamados de "figueirenses", termo adjetivo que foi sendo substituído, ao longo do tempo, pelo consagrado "alvinegros".

Destaca o historiador Maury Borges que a trajetória do Figueirense teve um início difícil e conturbado:

“Parece simples explicar. O Avaí pertencente à elite social, somava maiores facilidades de acesso às fontes de divulgação da época, enquanto o Figueirense, resignado pela sorte e pela humildade de seus fundadores, lutava em sucessivas crises financeiras e administrativas. (...) A diferença de clube do povo para clube da elite, diz tudo”.

Os "figueirenses" de 1923.

Desde o primeiro clássico, registrou-se a presença de uma notável assistência cujo destaque principal era a atuação feminina. A rivalidade, que nasceu no campo, logo se transferiria para as arquibancadas, dividindo as torcidas e, por conseqüência, a cidade inteira. A história nos mostra que, no entanto, essa divisão foi construída de forma desigual.

De acordo com a obra de Borges, o jornal “A Gazeta” em edição de 1936 lançou um concurso para definir qual clube era o mais simpático da cidade. Com maioria dos votos, venceu o time da Figueira, que foi premiado com um troféu. O Avaí, originário da Pedra Grande (atual Agronômica), terminou em segundo lugar, recebendo uma bola de futebol.

Em 1952, a Rádio Diário da Manhã, hoje CBN Diário, promoveu a enquete: "time preferido da opinião pública". Entre os clubes de Florianópolis, a maioria alvinegra se evidenciou, consagrando o Figueirense com 8.931 votos, contra 6.260 do rival. Entre os clubes do Rio de Janeiro, venceu o Botafogo que, na época, estava em evidência no Brasil.


Jornais da época destacam a maioria figueirense.
Para receber a premiação, o time do Botafogo veio à Florianópolis para enfrentar o Figueirense num amistoso realizado no Estádio Adolfo Konder, em 31/01/1952.
Créditos: Acervo da UFSC

1960 – A Invasão Alvinegra no Continente

Mais do que um marco patrimonial, a escolha do Figueirense pelo Continente transformou os rumos de sua história. Ao transferir sua sede para a parte continental da cidade, o Figueira acabou atraindo milhares de torcedores dos municípios vizinhos, os quais concentram grande parte da população da região.

O Estádio Orlando Scarpelli foi construído no coração da região de maior densidade demográfica de Santa Catarina, que contempla os núcleos urbanos do Centro, do Estreito e de São José. Este último, por si só, é mais populoso que o município de Criciúma.


A torcida alvinegra comprimida no acanhado Adolfo Konder.


Estádio Adolfo Konder, o famoso "Campo da Liga": casa do Figueirense até 1960.

Desde muito cedo o acanhado Estádio Adolfo Konder (Beiramar Shopping) mostrou-se insuficiente para suportar a massa alvinegra e suas ambiciosas pretensões. Desta forma o Figueirense se tornou o primeiro clube catarinense a erguer um grandioso estádio, apelidado inicialmente de Brinco de Ouro do Estreito e consagrado como a "casa mais visitada de Santa Catarina". Foi dos braços do Orlando Scarpelli que, pela primeira vez neste Estado, se ouviu o grito de trinta mil vozes a empurrar um time de futebol.


Os primeiros contornos do Orlando Scarpelli.

A construção de uma praça de esportes nas dimensões pretendidas, numa cidade ainda sem grandes possibilidades econômicas, foi um processo lento e difícil. O time sacrificou anos de sua prática esportiva para angariar recursos na construção de sua casa. Primeiramente, em 1945, transferiu sua sede para o bairro do Estreito, iniciando as obras para construção do campo somente em 1948. Apenas 12 anos depois, em junho de 1960, foi parcialmente inaugurado o Estádio Orlando Scarpelli, e o clube passou a mandar seus jogos, definitivamente, na parte continental da Capital.

No início dos anos 70, a "Coloninha" (antiga geral do Scarpelli) foi concluída, e o Estádio passou a ter a capacidade de comportar cerca de trinta mil torcedores. O orgulho de possuir o único estádio da cidade capaz de sediar jogos do Campeonato Nacional foi a grande recompensa após muitos anos de lutas.


A maior realização patrimonial do futebol catarinense até então.

Antigo estacionamento na Av. Santa Catarina - Invasão de automóveis no Estreito.

Unidos da Coloninha

A comunidade da Coloninha, situada no coração do Estreito, sempre esteve intimamente relacionada com a história do Figueirense. Surgida em meados dos anos 40, quando da construção de alguns humildes casebres de chão batido próximos à antiga fábrica de chapéus do senhor Orlando Scarpelli, a Coloninha tornou-se símbolo da popularidade do Clube. Em 1962, juntamente com a definitiva transferência do time alvinegro para a região, nascia a mais popular das escolas de samba de Santa Catarina: a Unidos da Coloninha.

Esta agremiação cultural e recreativa teve no Figueirense, sua principal referência. A escola cuja identidade se veste de verde e azul tem no coração a paixão pelo preto e branco, e nunca escondeu isso. Das quatro grandes escolas de samba de Florianópolis, das quais fazem parte avaianos e alvinegros, a única que apresenta uma enorme maioria, quase unânime, de torcedores de um único clube é a Unidos.

O Figueirense se orgulha de possuir grandes representantes em diferentes setores culturais e a Unidos da Coloninha, com toda a sua tradição no carnaval catarinense, é mais uma mostra da força da Torcida.

Atualmente, a Coloninha integra cerca de 3 mil componentes em seus desfiles, possui uma grande sede e realiza os ensaios ao lado do estádio Orlando Scarpelli. Recebeu recentemente, através do Instituto Brasileiro de Pesquisa de Opinião Pública, o título de escola de samba mais querida de Santa Catarina.


Crianças da Unidos da Coloninha em desfile de 1962.


A Escola de Samba de grande parte dos alvinegros.
Créditos: Marco Nunes e Site da Unidos da Coloninha

Década de 70 – Anos Dourados


Pôster do Figueira de 76. O colorido dos anos 70 estava estampado nas cadeiras do Scarpelli.

A década de 1970 foi, sem dúvida, a mais importante da história do Clube. Não por conta das conquistas, as quais já foram superadas em tempos mais recentes, mas porque consagrou o Figueirense como o mais prestigiado time de Santa Catarina. Quando da comemoração dos seus cinqüenta anos de vida, surge um Figueirense renovado, de casa nova, com um novo e definitivo símbolo estampado no peito, esbanjando simpatia. Após décadas de inferioridade, o futebol da capital foi restaurado.


Torcida feminina no Estádio Orlando Scarpelli, década de 70.

Os holofotes da imprensa estavam todos direcionados ao Orlando Scarpelli; os tradicionais bailes preto e branco agitavam as noites da cidade; a tietagem fez brilhar os ídolos, dentro e fora de campo; a liderança marcante do Major Ortiga dava personalidade à diretoria; enfim, o futebol alcançava seu auge no Brasil e, em Santa Catarina, o protagonista era o Figueirense. Vestir as cores preto e branco estava, mais do que nunca, na moda. E foi no período entre 1970 e 1980 que, possivelmente, registrou-se o maior crescimento da torcida alvinegra.


Figueirense x Cruzeiro no Orlando Scarpelli - Década de 70.


Dinastia Ortiga: o incansável Major José Mauro da Costa Ortiga, filho do também ex-presidente Osni Ortiga.


A torcida passou a fazer parte do espetáculo. Deixou de ser uma mera espectadora para tornar-se atuante durante o jogo. O destaque era imenso em razão de haver apenas um representante catarinense participando do Campeonato Nacional. O clube alvinegro mostrou para o Brasil sua força popular, batendo sucessivos recordes na presença de público e atingindo, em 1975, uma média de cerca de 17 mil torcedores por jogo. O Figueirense construiu, naqueles anos dourados, uma base sólida para conseguir suportar as intensas crises que ainda estavam por vir.


Foto tirada sob a Ponte Hercílio Luz, e utilizada em publicidade do Figueirense.


Toninho Catarinense, craque do Figueira, na capa da revista Placar (outubro de 75).


Palmeiras e Figueirense jogando pelo Campeonato Nacional no Palestra Itália.

O Gigante Acordou

Jornal O Estado:



"Eram 5 horas e 22 minutos da tarde quando um velho DC-3 da FAB fez uma suave curva sobre o Orlando Scarpelli. Aqui embaixo, um homem de preto, baixo e atarracado, ergueu sua mão direita para o céu. Era o sinal.

Egon, com uma vistosa camisa amarela, saiu correndo para o túnel, assim como todos os outros jogadores do Figueirense. Os portões do alambrado foram abertos pela torcida e de repente, o gramado – palco e posse, até ali, de 22 pessoas – transformou-se numa grande festa. Era o campeonato voltando à Capital, depois de 13 anos, e voltando ao Figueirense depois de 32.

Uma imensa bandeira alvinegra foi aberta e começou a circular, já tocada pela glória do título. Tão grande era, que envolveu um policial nas suas malhas. Este, irritado, deu uns puxões nos torcedores, escusando-se a dar trânsito ao público. "É Avaí! É Avaí!", gritaram.

No meio do campo se ascendiam velas. Pela esquerda, surgia carregado nos ombros o treinador Jorge Ferreira, que um pouco depois, de sapatos e meias, colocava os pés sob uma torneira.

Foi a hora em que, voltando dos vestiários, a equipe campeã iniciou a volta olímpica. Mesmo depois do jogo, o preparo físico estava excelente. Tentando acompanha-la, o presidente José Mauro Ortiga, apesar de ter tirado seu pesado capote, ficou na metade do caminho. À esquerda das cadeiras especiais, a torcida do Avaí a tudo assistia em silêncio.

(...)

Nas ruas a festa prosseguia. O número de pessoas e carros que lentamente deixava o estádio assegurava que, desta vez, o futebol voltou para a ilha para ficar, trazido pelo Figueirense, um time que nunca deixou de estar em ascensão, durante todo o campeonato."

Figueirense 0 x 0 Avaí. Orlando Scarpelli, Florianópolis, 3 de setembro de 1972. O futebol de Santa Catarina assistia ao despertar de um gigante: o maior fenômeno popular do esporte catarinense voltava a figurar entre os consagrados campeões estaduais, em busca da hegemonia perdida na década de 40. A conquista de 72, sobre o maior rival, não foi importante apenas para o clube alvinegro, mas para o campeonato em si, que até então não tinha visto uma comemoração de tamanha expressão.

1972 e 1973 – A Consagração da Maioria

Nas disputas entre Avaí e Figueirense, pelas finais do Campeonato Catarinense e pela participação no Campeonato Nacional, a diferença nas arquibancadas tornou-se explícita: a maior torcida era alvinegra.

Naquela época, vale dizer, Florianópolis ainda era o município mais populoso de Santa Catarina, seguido por Lages. Por si só, a Capital já garantia a maioria alvinegra. Mas foi a conurbação regional (com destaque para os municípios de São José e Palhoça) que, desde então, determinou o marcante desequilíbrio com relação aos outros clubes na disputa pela preferência.


Scarpelli em 1972 – Faixa parcialmente registrada pela fotografia enunciava: Figueirense, a maior torcida.


Detalhe: antiga cobertura da social do Scarpelli.

Em 1973, a revista Placar, em edição especial, promoveu o concurso “O Mais Querido”, que consagrou as maiores torcidas em cada estado brasileiro. Em Santa Catarina, a publicação reconheceu a força popular do Figueirense.


Pôster do time do Figueirense, publicado na revista Placar em 1973.

1975 - A Festa do Povo

Em 8 de outubro de 1975, circula o jornal O Estado, com foto produzida no dia anterior, com a manchete “Figueira tem a maior festa que a cidade já tributou ao futebol”. Mais de trinta anos depois, ainda não se teve notícia de fato semelhante.

Após o time se classificar para a fase final, vencendo o Bahia, em plena Fonte Nova, a capital catarinense se pintou de preto e branco. Naquele momento, não apenas brilhava o nome do time pelo país, mas também o nome da Cidade e do Estado. O orgulho se traduziu numa enorme projeção popular e o time desfilou em carro aberto através de uma multidão de torcedores que se concentrava na Praça XV de Novembro.

Aquele dia ficou marcado na memória da cidade como o dia em que o Figueirense mostrou-se, verdadeiramente, um gigante. Cerca de dez mil torcedores participaram da grande festa, que se iniciou na segunda-feira pela manhã e terminou na madrugada do dia seguinte. O time desfilou em caminhão da polícia militar e foi recebido pelo governador e pelo prefeito da Capital.

Foi a maior mostra do imenso prestígio alcançado na década de 70 e que acabou sendo, em grande parte, desperdiçado. Se o time tivesse conquistado, ao menos, um ou dois títulos durante a década seguinte, certamente teria fôlego para se firmar na elite do futebol brasileiro. A sucessão de vice-campeonatos e os fracassos financeiros acabaram por adiar esse feito.



Uma interminável caravana de carros desfilou pelo Centro.


A torcida, desde cedo, aguardava a chegada do time no Aeroporto Hercílio Luz.

Figueirense Parou Florianópolis




Com o título: "E a cidade parou...", o aludido jornal publicou, nos dias que sucederam aquela histórica comemoração, caderno especial que trazia uma seleção de fotografias da festa. Dentre as quais destacavam-se duas: a que mostrava a multidão que invadiu a Praça XV de Novembro e outra, colocada no centro da primeira página, que registrava em meio ao imenso tumulto uma senhora sorridente. Naquele momento, Florianópolis era a cidade de um só time.


Milhares de torcedores invadiram as ruas da cidade.


Carros desfilavam com as bandeiras alvinegras.


Os gritos de "Figueeeeeira" eram os mais exaltados.


A Festa no Estreito.

Créditos: Arquivos do Jornal O Estado

Mais de 15 mil Torcedores por Jogo

A força do Figueirense na década de 70 também se revela em números. A média de público alcançada em 1975 é, até hoje, imbatível em Santa Catarina.

Inesquecível time de 1975, no Orlando Scarpelli lotado.
Em pé: Casagrande, Adaírton, Pinga (eterno), Nelson e Sérgio Lopes. Agachados: Marcos, Moacir, Jaci, Luiz Éverton e Zé Carlos.

Confira as maiores médias de público da história do Campeonato Brasileiro (por clube):

1º Flamengo: 66.507 (1980)
2º Atlético-MG: 55.664 (1977)
3º Santos: 49.306 (1983)
4º Corinthians: 47.729 (1976)
5º Internacional: 46.971 (1979)
6º Bahia: 46.291 (1986)
7º Vasco: 46.281 (1983)
8º Fluminense: 43.541 (1976)
9º Palmeiras: 42.417 (1983)
10º São Paulo: 41.179 (1981)
11º Cruzeiro: 37.035 (1983)
12º Grêmio: 36.648 (1981)
13º Sport: 35.580 (1998)
14º Botafogo: 34.720 (1981)
15º Náutico: 30.918 (1983)
16º Goiás: 28.158 (1983)
17º Vitória: 27.022 (1993)
18º Atlético-PR: 23.801 (1983)
19º Fortaleza: 23.731 (2005)
20º Coritiba: 21.754 (1980)
21º Ceará: 21.622 (1982)
22º Guarani: 17.861 (1982)
23º Figueirense: 16.696 (1975)

Em Santa Catarina:

1º Figueirense: 16.696 (1975)
2º Joinville: 13.677 (1981)
3º Criciúma: 12.023 (1986)
4º Avaí: 10.820 (1976)

Lendário Dito Cola. Ao fundo, antiga arquibancada central do Scarpelli.

Em 1975 foi registrado, também, o maior público da história do futebol catarinense no Campeonato Brasileiro.


O velho bruxo, Lauro Búrigo, acompanhando treino no Scarpelli.


Confira os maiores públicos (torcedores pagantes) do Campeonato Brasileiro por clube*:

1º Figueirense Futebol Clube
Público: 26.660
Estádio: Orlando Scarpelli
Jogo: Figueirense 0 x 0 Vasco
Data: 24/09/1975

2º Joinville Esporte Clube
Público: 25.945
Estádio: Ernesto Schlemm Sobrinho
Jogo: Joinville 1 x 1 Grêmio
Data: 19/10/1977

3º Avaí Futebol Clube
Público: 19.591
Estádio: Orlando Scarpelli
Jogo: Avaí 0 x 4 Internacional
Data: 19/06/1976

4º Criciúma Esporte Clube
Público: 19.321
Estádio: Heriberto Hülse
Jogo: Criciúma 1 x 1 Internacional
Data: 16/10/1986

*Considerando, apenas, jogos da primeira divisão.
Fontes: Futpédia e Revista Placar - Guia do Brasileirão (2008). Números atualizados com os guias de 2009 e 2010.

Os dados podem ser conferidos no site da Rec. Sport. Soccer Statistics Foundation (RSSSF).

1979 - Todos na Primeira Divisão

Em 1979, o Figueira participou do maior Campeonato Brasileiro da história. Dentre os 94 times participantes, estiveram presentes outros quatro clubes de Santa Catarina: Joinville, Criciúma, Avaí e Chapecoense.

Segue, abaixo, a média de público das cinco maiores torcidas de Santa Catarina:

1º Figueirense Futebol Clube: 9.894 torcedores por jogo
2º Joinville Esporte Clube: 7.400 torcedores por jogo
3º Criciúma Esporte Clube: 4.705 por jogo
4º Avaí Futebol Clube: 3.824 torcedores por jogo
5º Associação Chapecoense de Futebol: 2.158 torcedores por jogo

Fonte: Futpédia:
http://futpedia.globo.com/

Vale lembrar que o estádio Orlando Scarpelli, por ordem da CBF, recebeu todos os jogos do time do Avaí nos campeonatos nacionais da década de 70, por ser o único estádio de Florianópolis habilitado a sediar jogos de nível nacional.


Em 1979 o Orlando Scarpelli recebeu sua última grande reforma.

1982 - Inveja e Vandalismo no Scarpelli

De um lado, um time popular que, a muitas custas, construiu sua própria e imponente casa; de outro, um time folclórico, mantido por algumas elites da cidade, e que jogava no precário estádio da Federação Catarinense de Futebol, o "pasto" da Rua Bocaiúva. Esse era o cenário do futebol da Capital, no final dos anos 70, início dos anos 80.

Em 82, a crise e a inveja falaram mais forte: alguns torcedores do Avaí, diante da ausência de policiamento, promoveram uma quebradeira generalizada no Orlando Scarpelli, ocasião em que o Estádio lhes havia sido cordialmente cedido pela diretoria do Figueirense para a realização de um bingo. Foi no dia 1º de maio.


Inveja e vandalismo: CR$ 1 milhão em prejuízo para o Figueirense. Ao fundo, cadeiras quebradas no setor "a".


Até carros (da Amauri Veículos, tradicional parceira do Figueirense) foram incendiados no gramado. Ao fundo, setores "d" e "e" do Scarpelli.

Fonte: Jornal O Estado, de 04/05/1982.

1984 – Novamente Consagrada

No final da década de 70 e início da década de 80, a estrutura do futebol catarinense mudou drasticamente. Os velhos rivais do Figueirense, como Metropol, Caxias e América desapareceram, dando lugar a novas e fortes equipes. Desta vez, os times não mais representavam clubes, mas cidades. Figueira pela força popular e Avaí pela força política resistiram, a muitas custas, a essa nova ordem do futebol estadual.

Em 1984, depois de ter perdido o título do ano anterior em seu próprio estádio, completamente lotado, num empate sem gols com o time de Joinville, o Figueirense teve nova chance de levantar a taça. Mas, infelizmente, acabou por repetir o resultado do ano anterior, contra o mesmo Joinville, no mesmo Scarpelli, na frente dos mesmos 25 mil torcedores.



Anos 80 x anos 70: o então presidente, Dr. Sadi Lima (Procurador-geral do Estado) e o saudoso Major Ortiga.

Nesse campeonato, vale lembrar, registrou-se um dos maiores públicos em clássicos até então. Segundo a diretoria alvinegra, mais de 25 mil torcedores assistiram ao jogo, dos quais apenas 19.581 pagaram ingresso. A propósito, de acordo com o historiador Jairo Roberto de Sousa, dos cinco maiores públicos da história dos clássicos, quatro foram documentados no estádio do Figueirense.



Albeneir, eterno ídolo da década de 80.

No mesmo ano, conforme os registros do historiador Maury Borges, o jornal O Estado confirmou o que as arquibancadas continuavam a evidenciar. O resultado de mais uma promoção de ampla divulgação reafirmou o Clube como o mais querido de Santa Catarina. Num total de 51.929 votos, o Figueirense venceu com 42,7% e o Avaí ficou com 33,1%.


Vídeo: gols de Albeneir no Figueirense da década de 80.

1985 – Duas Torcidas, Uma Tradição

No campeonato catarinense de 1985 os times da Capital se empenharam em conquistar o título de campeão, e as torcidas, mobilizadas, mostraram sua força nas arquibancadas.

Figueirense e a sua fanática torcida da década de 80.



Na penúltima rodada do hexagonal decisivo com espírito de semi-final, já que os vencedores decidiriam o título, Avaí e Figueirense jogaram em seus domínios contra fortes adversários. O Leão da Ilha pegou o Leão do Sul e o Furacão entrou em campo contra o JEC.


Moda anos 80: Figueirense e as polêmicas listras horizontais.

No dia seguinte, o jornal O Estado publicou as fichas técnicas dos jogos de Florianópolis:

Avaí 4x0 Hercílio Luz
Local: Estádio Governador Aderbal Ramos da Silva, na Ressacada, ontem à tarde.
Arbitragem: José Carlos Bezerra, auxiliado por João Manoel Florêncio e Jair Francisco da Rosa.
Gols: Catatau aos 16 e Duda aos 24 do primeiro, Décio Antônio aos 6 e novamente aos 41 do segundo tempo.
Renda: Cr$ 40 milhões e 16 mil.
Público pagante de 4 mil 706 pessoas.

Figueirense 1x2 Joinville.
Local: Estádio Orlando Scarpelli.
Arbitragem: Dalmo Bozzano, auxliado por Itamar Valente Vieira e Eurico Martins.
Gols: Wagner aos 24 pelo JEC, Vanusa aos 27 pelo Figueirense e Nardela, aos 34 pelo JEC, todos no segundo tempo.
Renda: Cr$ 148 milhões e 406 mil.
Público pagante de 10 mil 246 pessoas.

A maior sempre foi a maior...

Os Símbolos do Figueirense

Muitos clubes brasileiros possuem uma identidade popular, como, por exemplo, Flamengo e Corinthians. No entanto, são poucos os que possuem uma relação tão próxima com sua torcida. O Figueirense é um dos únicos clubes do Brasil, senão o único, que possui como mascote consagrado, um símbolo de sua popularidade: um menino negro. O mascote do Avaí é o leão; o do Criciúma é o tigre; do Santos é o peixe; do Cruzeiro é a raposa; do Figueirense poderia ser um gavião, um furacão, ou até mesmo uma figueira. Mas foi justamente na imagem desse menino que o cartunista Zé Dassilva, do Diário Catarinense, encontrou maior identificação com a imagem do time do povo.







Fonte: Diário Catarinense

Além disso, o Figueira, assim como o Flamengo, possui dois hinos populares: o hino oficial e o hino da torcida. Não bastasse ter a torcida alvinegra sua própria canção, constata-se no próprio hino oficial, datado de 1970, uma extensa passagem dedicada à mesma:

Avante Figueirense
Pra frente Furacão
S’embora esquadrão de aço
És tesouro do meu coração

Tua torcida é garra, é empolgação
Vejo em ti pujança
De um grande esquadrão

Por ti torcemos
Por isso somo alvinegros
A força do Scarpellão

Por ti torcemos
Por ti vibramos
Figueirense
És o nosso campeão

1987 – Torcida é destaque nacional

Atualmente se percebe, quando do rebaixamento de um grande clube do futebol brasileiro, uma grande mobilização das torcidas no sentido de ajudar o seu time do coração a voltar ao lugar que lhe pertence.

Em 1987, ocorreu algo semelhante em Santa Catarina: o Figueirense, clube mais popular do Estado, disputava, pela primeira e única vez, uma humilhante segunda divisão estadual. A torcida compareceu em massa ao Scarpelli e a imprensa fez uma inédita cobertura do campeonato.

No dia 10 de agosto, a Revista Placar publicou reportagem intitulada "Começando tudo de novo", da qual vale destacar o seguinte trecho:

"O prestígio do velho Figueirense pode ser aferido pela média de arrecadação de 100.000 cruzados contra os 60.000 que o rival Avaí alcança na Primeira Divisão".

Reportagem: público do Figueira na segundona é maior que o do Avaí na primeira.

No dia 5 de dezembro daquele ano, após a desastrosa final contra a equipe de Blumenau, que ficou com o título em pleno Orlando Scarpelli, o jornal O Estado, com a manchete “Chuva, suor e lágrimas”, assim publicou:

“O Figueirense não foi o campeão, mas mostrou que tem uma torcida invejável, apaixonada. O apoio foi decisivo durante todo o campeonato e ontem à noite, quando o juiz Dalmo Bozzano encerrou a partida, acabou seu sonho, o de ser campeão depois de 13 anos. Não deu Figueira, mas nem por isso a torcida mostrou-se vingativa. Ao contrário, calou os torcedores do Blumenau, que comemoravam o título, com um aplauso a seus jogadores que com certeza não foi menos gratificante que a Taça Governador do Estado (...) Ser Figueirense é sobretudo, ser um apaixonado (...) O Figueirense não foi o campeão, mas sua torcida foi.”

1990 - Tens a Torcida Mais Fiel do Nosso Estado

Em 2 de dezembro de 1990, num domingo memorável, o Figueira finalmente sagrou-se campeão! Da Copa Santa Catarina. Copa Santa Catarina?

Pôster do campeão da Copa... Santa Catarina!

O Figueirense era um gigante tentando sobreviver num calendário de time pequeno. Com o estádio lotado e a torcida empolgada, a fraca competição ganhou valor e aquela final contra o Brusque parecia final de Copa do Mundo. O time ainda recebeu as faixas de campeão num amistoso contra o Botafogo do Rio de Janeiro, enobrecendo assim sua conquista. No entanto, aquilo tudo não passava de um grande pesadelo. O Clube se encontrava num dos momentos mais difíceis de sua história e a Copa Santa Catarina só serviu para mostrar que a única herança do glorioso passado era a sua fiel e invejada torcida.

Coluna de Mário Ignácio Coelho do jornal O Estado (04/12/1990)

O leitor já imaginou se o Figueirense estivesse disputando um título estadual ou uma classificação em Campeonato Brasileiro, o que aconteceria? O estádio Orlando Scarpelli, a julgar pelo que houve no domingo, seria pequeno para abrigar uma torcida carente de conquistas expressivas (...) O mais evidente, isto sim, é a fidelidade de um público excepcional, como pouquíssimos em Santa Catarina – seria o maior? – e dono de um salutar fanatismo que poderia ser catalisado para a construção de um clube mais sólido e sem alguns improvisos típicos do amadorismo que infelizmente campeia por aqui. A taça Santa Catarina, um apêndice de calendário, provou que a torcida pode assumir uma equipe mais qualificada.

Ainda levou algum tempo para que o Clube achasse, na força da torcida, o caminho para sua reestruturação.

Créditos: Jornal O Estado (04/12/1990)

1991 – Os Gaviões Alvinegros


A força da Gaviões nos anos 90.

A fundação daquela que se tornaria a maior torcida organizada de Santa Catarina se deu num dos momentos mais difíceis da história do Figueirense. Coincidência, ou não, depois dela, o clube conquistou muitos campeonatos estaduais e uma vaga na elite do futebol brasileiro. Com efeito, o Figueira voltou a ser respeitado no País, e a força, novamente, partiu das arquibancadas.


"Força, garra e paixão".

Por obra dos Gaviões, Santa Catarina conheceu o lança-fita, o bandeirão, os sinalizadores... Enfim, a festa diferenciada partiu do Scarpelli e se propagou ao interior do Estado através das caravanas.


Reportagem sobre o fanatismo dos Gaviões, publicada no Diário Catarinense.

Ao longo dos anos, a Gaviões foi se tornando a maior entidade de representação da torcida alvinegra. Transformou-se em referência estadual e atualmente é uma das mais respeitadas torcidas organizadas do Sul.

Créditos: Site da Gaviões

1993 – Recorde de Público


A casa mais visitada de Santa Catarina.
Mesmo após 19 anos de angústia, a torcida do Figueirense continuava a mostrar sua força. No Campeonato Catarinense de 1993, a torcida registrou o recorde de público em uma única temporada até então. O Figueirense recebeu o total de 134.312 torcedores, praticamente o dobro do que recebeu o clube campeão, Criciúma, com cerca de 76.600. O levantamento foi feito pelo departamento financeiro da FCF, no incío de 1999.


Time vice-campeão estadual de 1993, no lotado Orlando Scarpelli.


Torcida rival é motivo de piada no Campeonato Catarinense de 1993.